quinta-feira, 26 de junho de 2008

ATÉ ONDE VAI O SEU PRÉ- CONCEITO ?

Ja faz algum tempo que estou com algumas palavras em mente pedindo para serem ditas ou escritas e finalmente encontrei um tempinho as 3 da manha após longo trabalho em estudio preparando meus samplers para o show que farei dia 15 de julho no Na Mata em SP.São Paulo SP ! Cidade que me recebeu de braços abertos e que ainda é para mim instigante e misteriosa, pois a cada dia que passa, descubro lugares e pessoas nessa terra onde meu senso de direção ainda é zero... rsrs .

Descubro pessoas lugares e pensamentos diversos e é exatamente sobre um desses pensamentos que gostaria de falar hoje relatando um fato acontecido após um simples comentário meu dentro de um carro com amigos. Eu disse assim: - Pôxa, eu hoje marquei de encontrar um amigo meu na parada gay, tentei chegar a tempo, mas não consegui e voltei... E de repente fui bruscamente interrompida com a seguinte frase – “O que... Parada Gay...? Então se você vai nisso, fica lá e sai do rap!” Quase não acreditei que se tratava de um comentário sério e achei que o cara tava me tirando... Mas ele continuou falando que o hip-hop não só não apoia os gays como é contra eles e que se eu fosse vista numa parada gay seria prejudicial para minha imagem e que, além disso, eu não poderia mais nem andar ao lado dele... Nooossaah!

Eu ainda tentei dar um toque para a pessoa falar por si e nunca em nome do Movimento (hip-hop), pois o mesmo é mundial e ninguém tem o “devido direito” ou o “poder” para falar em nome do hip-hop. Enfim a discussão seguiu séria e infelizmente a pessoa continuou em sua prepotência insistindo em seus “Pré” “Conceitos” estabelecidos segundo ele pelos donos do tal hip-hop, a quem ele se referia. Apesar de eu não conseguir levar a sério e nem dar muita importância ao acontecido, não pude deixar de pensar em alguns valores e de ficar meio perplexa em estar no ano de 2008, escutando alguém bater no peito assumindo sua Homofobia e a impondo como “lei do rap”!... rsrs.

Gostaria então de deixar aqui registrado que a Cultura Hip-hop foi criada por
Africa Bambaataa, com a intenção e o objetivo de resolver conflitos entre diferentes grupos de bairros, promovendo a União e a Interação dos praticantes da cultura de rua que se separavam em grupos e brigavam freqüentemente. Ou seja, a Cultura Hip-hop tem em sua essência a interação entre as diferenças; a prática da tolerância onde havia muita intolerância; a luta pela igualdade racial e social; à vontade e a certeza do direito de justiça entre os homens onde cada um deve saber respeitar os direitos de seu semelhante.
Independentemente dos diferentes estilos de música, beats e flows o que me encanta no hip-hop é exatemente a força de seu objetivo enquanto cultura onde diversos elementos se misturam e ganham um nome em comum, o Hip-hop!

E fico eu aqui pensando também em até aonde vai, dentro de cada um de nós, alguns valores preconcebidos como esse assumido pelo meu amigo de atitudes homofóbicas, que não se sente nem um pouco preconceituoso, pois não existe nele a consciência disso...Refletindo sobre isso me veio em mente que, se cada um de nós procurarmos detectar onde se escondem esses preconceitos, poderemos ser menos hipócritas ou até mesmo menos ignorantes sobre nós mesmos e, conseqüentemente, sobre o mundo em que vivemos.

Fica claro pra mim que é mais fácil falarmos do preconceito que sofremos do que falarmos sobre o preconceito que sentimos, mesmo que sem querer, por valores herdados ou presos em nossa mente, mas nem sempre claros ou conscientes. Comecei a procurar então algum possível preconceito e me lembrei que por ter tido uma amiga judia na infância ,que nunca emprestava seus brinquedos ou dava sequer um pedacinho de seu lanche na escola e também por ter dividido um quarto por um ano trabalhando com uma pessoa de origem judia, que sempre criava problemas na hora de fechar a conta no hotel, muitas vezes por apenas alguns centavos e causando sempre um atraso coletivo, sempre que penso no povo judeu imediatamente me vem em mente palavras como “pão duro” ou “mão fechada”, etc...

Detectei um preconceito claro em mim e pretendo ter a coragem de curar isso, assim como ter também a coragem de assumir outras possíveis pré-concepções estúpidas presas por algum motivo em minha mente, como também a de associar “Madames Socialites” a pessoas vazias ou fúteis – acredito que pelo fato de ter tido que comer sempre na cozinha quando eu era criança, após a morte de minha mãe e nunca poder repetir a sobremesa quando visitava uma tia.

Sinceramente acredito que se cada um de nós, ao invés de simplesmente só saber o tipo de preconceito que sofre ou sofreu, procurasse também saber até onde vai o preconceito que sente, começaríamos a realmente CURAR O MUNDO.

Continuarei procurando detectar os meus.

E você? Sabe até onde vai o seu PRECONCEITO?

Hannah Lima.