sábado, 22 de novembro de 2008

Texto sobre o Seminário Hutuz, escrito por mim para o site www.mulheresnohiphop.com.br

Dia 20 de novembro dia da Consciência Negra rolou um seminário produzido pela Cufa sobre o tema “Mulheres do Carnaval ao Hip-hop pela valorização da mulher brasileira” no CCBB aqui no Rio de Janeiro.

Soube durante a semana que eu seria a mediadora do seminário onde estariam presentes a Deputada Federal Marina Maggessi e a modelo e Atriz Quitéria Chagas.
Fiquei muito feliz pois estava lendo o livro da Marina e também porque o assunto em questão é algo presente em minha vida proficional especialmente porque sou mulher e a questão da banalização da imagem feminina nesse país tem efeito claro na vida de quem vive e sobrevive especialmente de música.
A oportunidade de falar sobre esse assunto em público me deixou grata e ao mesmo tempo ansiosa embora certa de que tudo acontece a seu tempo certo, afinal eu nunca havia participado como integrante de uma mesa em um seminário antes e estaria estreiando já como mediadora. Eu tinha tudo para estar nervosa porem isso não aconteceu. E minha calma acredito que tenha sido o resultado da segurança que adquiri nesses 18 anos de carreira proficional na musica.

Adorei conhecer a Deputada Marina Maggessi e também a Quitéria Chagas, Duas mulheres inteligentíssimas e simpatissíssimas .

Nosso papo fluiu de forma positiva.
Abri o debate falando sobre meus pensamentos quando estava dentro do táxi a caminho de la nesse dia tão especial da Consciência Negra ,quando me veio em mente nomes de mulheres como Jovelina Perola Negra, Dona Ivone Lara,Dolores Duran, Alcione, Sandra de Sá, Leci Brandão, Dina Di, Edwirges, Nega Gizza e me lembrei também de momentos da minha trajetória proficional .
Comecei o debate dizendo que gostaria que nosso papo, mesmo ao falarmos sobre os preconceitos existentes com relação as mulheres fluísse e fosse entendido não em tom de reclamação mas sim em tom de VITORIA. Pois se é fato que os caminhos para as mulheres são mais difíceis e mesmo assim nossa contribuição para a música e também para outras profissões tem sido significativa é porque somos vencedoras e sendo assim muito mais capazes do que qualquer tipo de preconceito possa supor , impedir ou limitar a nossa atuação!

As perguntas começaram e as respostas foram se revelando cada vez mais fortes como por exemplo essa frase dita pela Deputada Marina Maggessi:

“-Nunca aceitei o papel de vítima. Isso é o que me impulsiona a alcançar meus objetivos”.

E pela modelo e atriz Quitéria Chagas:

“-Para algumas pessoas, uma mulher mais agressiva, com mais pulso, é ‘sapatão’; e quando ela faz parte do carnaval e vira símbolo sexual, ‘só tem bunda’” – afirmou. Ela terminou sua fala dizendo: “Quando você tem certeza daquilo que você quer fazer, não há preconceito que te derrube”.

A conversa seguiu positiva e me emocionei ao ser perguntada sobre minha reação aos preconceitos quando meu trabalho ainda não era reconhecido.
Contei vários episódios como os vários convites que recebi para gravar somente por causa de minha imagem e sem respeito algum por minhas músicas, voz e talento como compositora, contei sobre como consegui vender meu primeiro cd conseguindo que um diretor escutasse primeiramente minhas musicas sem ver minha imagem para que com isso o respeito pelo meu trabalho pudesse ser alcançado dentro de uma gravadora.
Contei também sobre um dia em que estava na galeria da 24 em SP e um dono de uma loja ao saber disso colocou meu cd e ao me ver passar já indo embora me chamou dizendo :
-Hey vc é a Hannah Lima?
Eu disse sim.
E ele: - Poxa seu trabalho é muito bom mesmo! ...Eu tinha esse pôster aqui mas sinceramente ao ver o pôster não tive vontade de escutar não! Me desculpe mas você é muito bonita e eu pensei que seu trabalho fosse uma mentira e algo muito ruim. E em seguida ele continuou:
- É muito bom mesmo mas escuta quem faz essas musicas pra vc?

Segui respondendo a pergunta sobre minha reação a tudo isso dizendo que minha única arma contra isso é a competência e o foco em busca do aprimoramento do meu trabalho. É muito difícil lidar com o menosprezo quando ele vem aliado a um elogio. O olhar de descrença é igual porem a pessoa que comete o preconceito acredita estar te elogiando em função da sua beleza e uma reação a isso se torna difícil. Minha forma de reagir é mantendo o foco no meu trabalho!

Ao final da conversa concluímos :

Seja no Samba, no Hip Hop ou na Política, o importante é continuar o processo de propagação dos direitos femininos em relação à sociedade, pois é esse o primeiro passo para a diminuição do preconceito.


HL

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